REGISTRO DE POSSÍVEL FALHA NA PREDAÇÃO DE LAMBARI (CHARACIDAE) PELA SERPENTE Helicops angulatus.
Palavras-chave:
comportamento alimentar, impacto ambiental, CarajásResumo
O Brasil é o 3º país com a maior herpetofauna do mundo, abrigando riqueza superior a 800 espécies, contemplando hábitos alimentares bastante diversos. Helicops angulatus (Linnaeus, 1758), também conhecida como cobra d´água, é uma serpente amplamente distribuída na América do Sul, habitando corpos d´água lênticos. Essa espécie, cujo tamanho máximo varia entre 686 mm (machos) e 735 mm (fêmeas), possui adaptações à vida aquática como olhos e focinho posicionados no topo da cabeça, o que permite uma melhor visão e respiração fora da água, quando o corpo está submerso. Apesar da sua ampla distribuição, há uma considerável lacuna sobre o comportamento alimentar da espécie. Aqui relatamos o caso de um exemplar de H. angulatus de 234 mm encontrado morto com um lambari (Teleostei: Characidae) de 63 mm de comprimento e 18 mm de altura, entalado na boca nas margens de um curso d’água da microbacia do Rio Igarapé Gelado, afluente do rio Parauapebas. As serpentes, de modo geral, são especializadas na ingestão de presas inteiras de tamanho igual ou superior, devido a capacidade de expansão da pele e da elevada mobilidade do crânio. O predador deve avaliar o tamanho da presa e a energia despendida para a captura e ingestão da presa. No entanto, erro dessa avaliação pela serpente ao capturar presa com um tamanho excessivo pode torná-la mais pesada e prejudicar sua locomoção e, consequentemente, sua fuga de eventuais predadores, ocasionando maior probabilidade de ser predada. Presas muito grandes também podem aumentar a chance de asfixia e ocasionar sua morte. A ingestão de presas de tamanho superior a capacidade de deglutição pode estar relacionada a inexperiência de jovem serpentes em lidar de forma eficaz com a presa e com a menor disponibilidade de presas de tamanho adequado. Acreditamos que a situação relatada pode estar relacionada ao fato dessa microbacia ser uma das mais impactadas da região, que reflete em uma diminuição da disponibilidade de itens alimentares. Dessa forma, devido ao consumo de peixe ser usual para essa espécie de serpente e existir clara constrição na região abdominal da presa, supõe-se que esse exemplar de serpente tenha investido em uma presa disponível maior que sua capacidade de deglutição, não conseguiu regurgitar e morreu por asfixia. Esse registro é importante para melhor elucidar o comportamento alimentar de H. angulatus, assim como a importância de um ecossistema equilibrado.
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